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JU-JUTSU

QUE DIZ A HISTÓRIA SOBRE O JU-JUTSU
O Nihon Shoki - relata as crônicas mais antigas da história do Japão. Essas crônicas foram escritas por ordem imperial no ano 720 da era Cristã, em trechos apropriados falam de um torneio de Chikara-Kurabe (competição de força), confirmados pela história do Judô de Kodokan.
Esta competição de Chikara-Kurabe foi realizada no sétimo ano do Imperador Suinin, 230 anos A.C. E historicamente vista como o começo da luta japonesa que poderia ser o Ju-Jutsu ou o Sumô, que se caracteriza como uma autêntica prova das Histórias do estado embrionário da prática do Ju-Jutsu e Sumô nos tempos mais antigos e recuados no Japão primitivo.
Os comentários e as crônicas vão se diversificando com relação que se pretende entender como a gênese do Ju-Jutsu, uma vez que aparecem nas crônicas medievais e até mais antigas, uma dúzia ou talvez mais de nomes diferentes como Yawara, Taijutsu, Wajutsu, Torite, Kogusoku, Kempô, Hakuda, Kumiuchi, Rhubaku, Koshi-No-Nawari etc. São numerosas as escolas, e cada uma delas se distingue das outras pelas diferenças dos próprios métodos. Muitas pessoas se tornam historiadores das lutas e começam a estabelecer diferenças colocando em cheque muitas vezes a incapacidade de problematizar historicamente os acontecimentos, cada um procura idealisticamente fortificar seu ponto de vista. O que nos parece mais relevante historicamente é a narração realística de todas essas escolas, o momento e os valores políticos da época e para que serviam. Elas foram e serão sempre aquelas que subsistiram e que são atividades físicas definidas como arte de ataque e defesa, algumas vezes sem armas, contra um adversário armado ou não, não havendo preponderância de uma sobre a outra.
O mais antigo texto a respeito da palavra Yawara aparece na literatura japonesa e está contido no “Konloku Monogatari”, livro dos contos antigos e modernos que foi escrito na metade do décimo primeiro século. Como a palavra Yawara foi mencionada naquele livro a propósito de um conto sobre Sumô, não se pode identificá-la com o Ju-Jutsu, é um documento interessante e digno de atenção dos historiadores de Judô.
No que todos porém são acordes é que foi no Japão que a atividade medrou, tomou consciência, colorido próprio, evoluiu e diversificou-se irradiando-se daí para todas as latitudes em que atualmente se incorpora aos processos de educação física e desportos. 
É interessante, referirmo-nos a observação de SHIROBEI AKYAMA - fundador da escola Yonshin-ryu. Durante uma nevasca, notou ele que as árvores delgadas mas flexíveis, tão logo a neve se acumulava em seus galhos, fletiam-se, suavemente, deixando-a ao cair ao solo, voltando após à primitiva posição. Cediam, pois ao invés de resistir ao peso esmagador, e assim, mantinham-se íntegras.
Árvores fortes e troncudas resistiam por muito tempo, mas terminavam com os galhos fendidos ou arrancados do tronco, tão logo a carga se acumulava em demasia. Eis a NATUREZA a ensinar o princípio básico do Ju-Jutsu assimilado pelo Judô - NÃO RESISTIR ao esforço direto do oponente, mas CEDER aparentemente a fim de a posteriormente, obter superioridade definitiva.
Concluamos, pois, que o Ju-Jutsu, de fato senão de direito, é uma manifestação de cultura do povo nipônico, o qual nele reflete suas próprias características.
É também pacífico ter sido no período feudal daquele país, que os exercícios de luta de ataque e defesa, tais como a Esgrima - de Sabre e de Lança - a Arqueria, foram cultivadas e incrementaram-se sobremodo.
Paralelamente, desenvolviam-se e aperfeiçoavam-se sistemas de lutar inerte contra um adversário armado ou não. Tomavam eles vários nomes, tais como TAI-JUTSU, YAWARA, JU-JUTSU, etc., todos capacitando o praticante a obter êxito, desde que adquirisse um grau adiantado de conhecimento.
A arte do combate inerme como exercício guerreiro ramificou-se em várias escolas. Destas resultaram por evolução, até fins do século passado, dois tipos de atividades, a saber: O SUMÔ (luta corporal propriamente dita) a base de peso e força, tendo se orientado no sentido do espetáculo e como tal é ainda hoje talvez a mais praticada- e o JU-JUTSU, a base de habilidade, estratagemas e ardis, consagrada ao combate real.
Segundo o Bojutsu Ryûsôroku (crônica da biografia dos fundadores das diversas escolas de Ju-Jutsu que existiram antes da criação do Judô, são mais ou menos 20 escolas (Ryu). Tais como TAKENOUCHI-RYU, SEKIGUSHI-RYU, KYUSHIN-RYU, KITORYU e TENSHIN-SHINYO-RYU. As duas últimas escolas foram particularmente estudadas por Jigoro Kano, o fundador do Judô.
Havia não apenas um, mas vários tipos de escolas por assim dizer, e algumas especializavam-se em determinadas formas de combate, com certas características diferenciais, embora tivessem numerosas afinidades.
Os seus recursos consistiam em ações defensivas e principalmente ofensivas, tais como- derrubar com violência o antagonista, golpear ou bater com as superfícies fortes do corpo em pontos vulneráveis, prender ou imobilizar o adversário por torção, flexão forçada ou distensão de articulações que podiam causar dores atrozes ou mesmo morte por traumas ou compressões completavam o arsenal.
Durante o período Tokugawa (l603-1867) o Ju-Jutsu desenvolvera-se como uma arte bem elaborada, sendo ensinado por numerosos mestres habilitados, representantes credenciados das escolas que substituíram com o impacto do processo evolutivo.
Pouco a pouco, o nome de Ju-Jutsu vulgarizou-se a tal ponto que, mesmo quando era aplicado um golpe de TAIJITSU, YAWARA etc, o espectador a ele se referia como sendo um golpe de Ju-Jutsu.
Para melhor ilustração e dentro de nossa ordem de idéias, tracemos, em linhas gerais, o panorama social do Japão no período feudal - era do Shogunato lembrando que só a partir do século XVI (l542) os ocidentais travaram relações com aquele país, e que, em 1549, o então missionário jesuíta Francisco Xavier ali esteve, a serviço da fé cristã.
A sociedade era dividida rigidamente em castas: o Imperador, embora despido do poder temporal, era a mais alta personalidade, investido de poderes espirituais. A seguir, vinha o Shogun, uma espécie de Regente, que exercia o poder de fato, em virtude do seu poder militar. Os Daymios eram os senhores correspondentes aos Barões medievais, e deles saía o Shogun. Os Samurais, que constituíam cerca de 5% da população, eram uma casta de guerreiros a serviço dos Daymios, não podendo abandonar as suas terras embora não fossem servos; possuíam regalias especiais. Os que não serviam a determinado senhor eram chamados de Ronin, ou Samurais despedidos, sem emprego. Em tempo de paz, era dos Samurais idosos que saíam os encarregados dos serviços administrativos dos Daymiatos ou do Império. Em escalas inferiores os Ashigaru, os comerciantes que andavam a pé, os Kachi, os servos da gleba.
Em muitos aspectos, os “samurais” apresentam analogias com os espartanos, pela rigidez do seu modo de vida, e com os cavaleiros da Idade Média pela força dos ideais. Foram os Samurais que viveram o Ju-Jutsu e transformaram o exercício marcante da época em arte refinada por intermédio de seus instrutores.
Durante o período Tokugawa a arte dos samurais atingiu o apogeu mas, é mister que se acentue. Jamais dentro de uma rigorosa unidade de doutrina, visto que, mesmo em um sistema particular, os mestres tomavam caminhos diferentes no seu ensino.
É interessante falarmos um pouco mais a respeito desta casta que vivia submetida a uma disciplina férrea, tendo por anelo o aprimoramento crescente - físico e espiritual.
Muito contribui para este desígnio a doutrina Zen-Shu, ramo do budismo. Condicionava a própria salvação do crente a uma austera disciplina do corpo e da alma, desenvolvendo, assim, a vontade e o domínio de si mesmo que todo “samurai” possuía no mais alto grau.
A filosofia Zen incutia nos espíritos dos samurais a prática da serenidade, simplicidade, reforçamento do caráter e, sobretudo deu-lhe uma estabilidade emocional que se traduzia em uma calma imperturbável capaz de enfrentar todas as situações graves da vida, ou mesmo da morte.
Estas digressões por assuntos correlatos, mas básicos ao entendimento perfeito do fenômeno, leva-nos a uma pequena referência sobre o Bushido - via do Guerreiro - código ético - moral dos “Samurais”. Elaborado no período feudal japonês, visava arraigar sentimentos de honra, de dignidade, de intrepidez, de lealdade e de obediência. A força do guerreiro devia aliar-se à serenidade de um filósofo e à insensibilidade de um estóico. Preconizava uma vida de rusticidade, cavalheirismo, desprezo pela dor e sofrimento, respeito pelo superior, bondade para o inferior e auxílio generoso às mulheres, às crianças e aos velhos.
Uma de suas máximas diz- “A desonra é como a cicatriz na casca de uma árvore- longe de apagá-la, o tempo não faz se não aumentá-la cada vez mais”.
Os mesmos sagrados princípios e altos ideais da Cavalaria na história do ocidente medieval, com colorido e cunho local, guiavam pois os “Samurais”.
A sua arma era o sabre, as suas lutas eram as batalhas em campo aberto.
Assim como o Cristianismo foi o inspirador dos ideais dos templários da Cavalaria, a doutrina Zen-Shu o foi para o ânimo inquebrantável dos samurais, levando-os a suportar a dor e as contrariedades com resignação inaudita, não manifestando externamente o menor sinal de sofrimento por mais cruciante que fosse.

AUTOR DO TEXTO: ELTON LIMA

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